Por Rachel Gadelha

O Instituto Dragão do Mar (IDM) é um patrimônio do Ceará. Faz parte da história da nossa política cultural, da construção do repertório artístico e simbólico de uma geração de cearenses e da formação de um mercado de trabalho no estado. Como primeira Organização Social de Cultura do país é também símbolo de visão, ousadia, coragem e pioneirismo e, até hoje, é uma instituição que traz essa marca. Se, ao falarmos do IDM, nos firmamos em seu passado, hoje já temos também a satisfação de nos referenciar seu presente e, neste, nos inspirar para um futuro promissor.

Depois de duas décadas de história, o IDM iniciou uma profunda transformação, se reestruturando administrativamente e se reinventando institucionalmente. Nesse processo, protagonizou uma construção política, cultural e simbólica de grande relevância para a gestão cultural no Ceará e no Brasil, que só poderá ser devidamente percebida e mensurada com o decorrer do tempo – que amadurece percursos, apura o olhar e lapida resultados.

O relatório que estamos apresentando trata disso. É uma construção, porque entendemos tudo o que vivemos na gestão do Instituto Dragão do Mar como processual e em permanente estado de elaboração, revisão e aperfeiçoamento. O IDM, com seu tradicional legado e trajetória de ousadia, é o mesmo IDM que teve a coragem de se reinventar e passar por um amplo processo de reestruturação e modernização, que iniciou em 2021, mas que segue em curso e se consolida ainda hoje.

É política, porque o que fazemos é de extrema relevância para a sociedade. Nosso trabalho reverbera diretamente na ampliação do alcance e na qualidade do acesso às políticas públicas de promoção e garantia dos direitos culturais, por meio de atividades de formação e fruição realizadas nos equipamentos sob nossa gestão e em outros projetos criados por iniciativa própria do IDM. Nosso propósito é fazer uma gestão cultural que trabalhe de forma ética e comprometida, sustentada na transversalidade da cultura e colaborando nas pautas sociais, de educação, meio ambiente, esporte, segurança alimentar, igualdade racial, juventude, desenvolvimento social, diversidade, acessibilidade e inclusão. Para isso, dispomos de uma equipe competente, com capital político, social e humano, capacitada para traduzir essas políticas em programas, projetos e ações integradas, sensíveis, coerentes e complementares.

É plural, porque acreditamos que uma instituição do porte do IDM, com mais de 600 colaboradores e outros tantos prestadores de serviços e parceiros, só se faz com a participação ativa de muitas pessoas, seus saberes e experiências.
Reunimos muitas áreas de conhecimento, com espaços para diálogo, debate, reflexão e crítica. Nosso fazer cotidiano acolhe espaços para o aprendizado, para a diferença e a experimentação, para criação e para maturação. Espaço para a diversidade, para a inclusão, para o crescimento. Espaço para o reconhecimento dos que nos precederam e para os que chegam com novas ideias e propostas.

É também simbólica, porque essa é a anima do IDM: trabalhar com arte e cultura. Atuamos no campo do sensível, da ampliação de repertórios simbólicos, na possibilidade de novas leituras de mundo e de deslocamentos sociais. E fazemos isso buscando a excelência na gestão, dando amplas possibilidades de criação e expressão a esse valioso repertório que se apresenta por meio da arte e da cultura. Acreditamos em uma gestão que tenha a cultura na centralidade e atue para estimular nosso campo cultural e seus agentes, estruturando processos e percursos criativos.

Os desafios da gestão cultural são amplos, diversificados e cotidianos. E uma instituição como o IDM deve ser permeável, participativa, cidadã e receptiva às mudanças sociais e demandas de artistas, das secretarias parceiras e do público.

Com as particularidades de uma OS do Ceará, que faz a gestão de 16 equipamentos culturais para três secretarias distintas, buscamos alcançar uma gestão eficiente e transparente, que dê conta das especificidades do campo e
das necessidades dos artistas e trabalhadores da cultura. Buscamos reduzir a burocracia dos processos e redesenhar a estrutura administrativa para dar mais agilidade e qualidade às entregas. Aprimorar mecanismos de gestão no campo das artes e da cultura é um dos grandes desafios vivenciados pelo IDM, o que nos instiga na busca de uma evolução constante.

O que fazemos hoje só é possível porque posicionamos nossa atuação numa perspectiva de gestão em rede, onde cada equipamento sob nossa gestão tem sua singularidade, sua trajetória, seu território e vocação respeitados e valorizados.

Isso só se faz com parcerias institucionais fortes. Continuamos contando com a Secult Ceará, como nossa mais antiga e principal parceira, fundamental na trajetória do IDM. Ampliamos significativamente nosso leque de parceiros, a proximidade com agentes culturais e a participação na agenda cultural do país, ocupando hoje a vice-presidência do Conselho de Administração da Abraosc – Associação Brasileira de Organizações Sociais de Cultura. Contamos com a parceria de outras OSs de Cultura, de universidades, instituições sociais e culturais, coletivos, fóruns e integramos instâncias de participação social.

Neste relatório, trazemos nossas experiências em diversas dimensões que nos desafiam. Falamos de gestão de pessoas, inovação, monitoramento, sustentabilidade, infraestrutura e questões administrativas e financeiras. Mas também compartilhamos experiências sobre a implementação de projetos político-pedagógicos e sistemas de avaliação, a qualificação e integração de ações em rede, cidadania cultural, integração e transversalidade, entre outros temas. Em todos, há a busca de sinergias e propósitos em comum, o fortalecimento da governança e a institucionalização de processos para não haver retrocessos nesse caminho.

Em síntese, esses são os rumos que o DM tem tomado para se reinventar e reposicionar enquanto instituição pioneira na gestão cultural. Os textos deste relatório apresentam algumas dimensões dessas transformações que o IDM tem vivido, expondo resultados de 2024, mas também reflexões que contextualizam e indicam como e porque chegamos até aqui.

As palavras talvez não consigam dar conta da riqueza do processo vivido, do desafio enfrentado e da competência, engajamento e disponibilidade dos colaboradores e parceiros mobilizados nessa trajetória, porém o relato que fazemos é história, é memória e é aprendizado.

Sabemos que compartilhar esse percurso é também socializar conhecimento, construir tecnologia de gestão, e, em última instância, crescer junto com o campo cultural e seus agentes.

Deixo aqui meu registro e minha gratidão ao afirmar que essa história foi e continua sendo escrita à muitas mãos. Durante esses anos e, particularmente no ano de 2024, contamos com o apoio de quase 800 pessoas entre colaboradores diretos, terceirizados e prestadores de serviços que com inteligência, compromisso e entrega fizeram a diferença. E é por isso que esse relatório é escrito por muitas pessoas. Porque o Dragão é assim. É grande. É plural. Tem muitas faces e vozes. É patrimônio do Ceará e reverbera no Brasil.

A essa história se somam secretários, servidores, parceiros, artistas, técnicos e públicos. Os que fizeram chegar até aqui, os que estão e os que virão. É para vocês que escrevemos este relato, e é com vocês que o IDM conta nos próximos 25 anos para a continuidade dessa construção política, plural e simbólica, que é cearense de nascimento, mas que tem o Brasil como destinatário final.