A Cultura, as Mulheres e o IDM: construir uma história de participação e decisão

Uma mulher cis branca, de camisa preta, cabelos loiros presos em rabo de cavalo e óculos de grau olha para a câmera.
Cláudia Felipe é colaboradora do Mirante do Caldas, no Cariri: ampliação das oportunidades para todos. Foto: Hélio Filho

Visibilidade, equilíbrio em espaços de decisão, equidade em benefícios trabalhistas e políticas de equiparação de remuneração. O Instituto Dragão do Mar (IDM) compreende que as conquistas reais das mulheres passam  necessariamente por esses e outros direitos concretos que são essenciais para que elas atuem em pé de igualdade com os homens, no mercado de trabalho. As mulheres, cis e trans, são, hoje, mais de 56% do corpo colaborativo do IDM. Mas o número que faz brilhar os olhos é que elas ocupam 55% dos cargos da Diretoria e de gestoras de equipamentos. Nesta sexta-feira, 10, acesse o perfil da instituição no Instagram (@institutodragaodomar) e confira detalhes da formação do quadro de pessoas que fazem o dia a dia da Organização Social.

Assim, neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, nessa publicação, evidenciamos as narrativas e análises de três mulheres que são colaboradoras da instituição. A primeira é  Kênia Freitas, programadora e curadora do Cinema do Dragão, mulher negra que sabe a importância que outras mulheres ocupem espaços decisórios quanto à programação, direção e formação, entre tantas outras importantes atividades do audiovisual e, por conseguinte, da cultura. Ayla Nobre, estudante de Ciências Sociais e mediadora social da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), jovem trans que defende a necessidade de ter histórias positivas de pessoas trans divulgadas com tanta intensidade quanto os dados de denúncia das condições de vida e de morte de outras pessoas trans para inspirar a busca por direitos e conquistas. Cláudia Felipe de Sá Barreto, assistente Administrativa do Complexo Ambiental Mirante do Caldas, em Barbalha (Cariri), finaliza com sua história de vida e trajetória no IDM, evidenciando a influência do ambiente de trabalho no crescimento profissional das mulheres, além do seu impacto na família das colaboradoras.

“Sou alguém que trabalha na área de cultura, na área de cinema e isso significa estar sempre buscando espaços e também lutando para que mais mulheres estejam juntas nesse lugar formativo, nesse lugar de proposição cultural, de proposição de programação, não apenas na frente das câmeras, embora também seja importante, mas pensando o campo do cinema de forma integral, o ensino, a programação, o campo do cinema de uma forma geral. A partir do momento que o cinema começa a se consolidar como indústria, se consolida como a sétima arte, deixando de ser um entretenimento popular, há também uma reconfiguração das profissões exercidas por mulheres, que anteriormente estavam da direção à montagem, mas acabam sendo colocadas em profissões muito específicas.  É muito forte aqui no Brasil mulheres fazendo só produção, que é muito necessário, mas é como se elas não pudessem estar nas áreas mais de criação. Elas são muito importantes e necessárias em produção, mas também em direção de Fotografia, roteiro… chamamos atenção para que estejam em todas as funções.”.

“A  Cultura e sua transversalidade, como a compreendemos,têm muito a contribuir para esse crescimento da pauta das mulheres em todos os ambientes porque sensibilizam, deslocam do lugar comum, emprestam novos sentidos e criam discursos que podem mobilizar com muita força o debate na sociedade”, afirma Rachel Gadelha, presidenta do IDM. 

Kênia Freitas 

programadora e curadora 

Cinema do Dragão

Uma mulher trans e negra, de cabelos pretos ondulados, chale amarelo, vestido estampado floral em tom escuro, segura um celular de capa rosa numa mão e o microfone na outra, enquanto lê um texto.
Ayla é mediadora social da Bece. Mulher trans, ela acredita no equilíbrio de pautas de denúncias e positivas para construir uma sociedade com mais equidade.

“Eu acredito que o primeiro passo é realmente colocar essas mulheres transssexuais, travestis em locais de escuta, a gente tem que entender o que é necessário, quando a gente está num local de decisão é muito fácil pra gente achar o que pode ser bom pro outro, mas quando estamos em outro lugar termos uma noção mais de vivência. Quando entrei na Bece foi um passo atrás do outro, para entender a maneira como deve ser feita. Essa população, que é a minha população, que eu faço parte, ela não deve ser entendida como uma que está nas esquinas, vivendo apenas os estereótipos dessas questões. A gente também está num patamar agora e num local de construção, de experimentação, então é necessário que essas pessoas sejam vistas nesses momentos. Os equipamentos de Cultura estão acolhendo essas pessoas, ultimamente eu vejo várias nos equipamentos, vejo pessoas trans ocupando esses lugares. Eu fico muito feliz de poder estar, neste momento, em um local que me coloque nessa posição de decisões, escutas, construções. Quanto mais estivermos nesses locais e quanto mais outras que não estão aqui, como o Instituto, mas que estão fora, estão construindo, estão fazendo cultura, acho importante que elas sejam ouvidas e o trabalho delas seja pautado.”.

Ayla Nobre

Mediadora Social

Bece

“Comecei a namorar muito nova, logo me separei do meu esposo e tive que ser pai e mãe dos meus filhos e fazer escolhas, entre estudar ou trabalhar e criá-los. Mas sempre fiz a escolha de colocar educação para eles acima de tudo porque acho que o único bem que podemos dar aos nossos filhos é educação. Tinha um sonho de fazer minha faculdade desde sempre, mas quando começava acontecia um problema e eu tinha de deixar e trancava. Mas sempre mantendo meu pensamento firme em voltar e concluir. Até que entrei no Mirante em 2021 e disse: ‘Agora, chegou a oportunidade de terminar minha faculdade”. Entrei aqui em setembro de 2021 e já em outubro reabri minha matrícula no curso de Secretariado. Já vou concluir esse ano, em outubro, com muito esforço, mas gosto muito de desafios e do novo, tanto que minha carteira de trabalho é muito diversificada. O diferencial de todas as empresas pro IDM, que eu acho, é que é esse lugar de oportunidades,  acolhimento para todos, que se reflete nessa cobertura familiar que nos dão. Aqui, somos uma família que todo mundo se dá bem, é muito prazeroso, tanto a gestora como a minha equipe, do jardineiro à direção, todo mundo se gosta. O fato da gestora ser mulher e ter sensibilidade ao olhar para nossas dificuldades também faz toda a diferença na escuta, na compreensão e isso reflete na nossa vontade fazer tudo aqui dar certo, de darmos o nosso melhor sempre para ver a coisa acontecer, para ver o sorriso de quem visita ao sair daqui ser igual ao nosso sorriso quando estamos trabalhando, de satisfação e alegria por fazermos parte de tudo isso.”.

Cláudia Felipe de Sá Barreto

Assistente Administrativa 

Complexo Ambiental Mirante do Caldas 

Barbalha

“A  Cultura e sua transversalidade, como a compreendemos, têm muito a contribuir para esse crescimento da pauta das mulheres em todos os ambientes porque sensibilizam, deslocam do lugar comum, emprestam novos sentidos e criam discursos que podem mobilizar com muita força o debate na sociedade”, afirma Rachel Gadelha, presidenta do IDM. 

O Cinema do Dragão faz parte do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) que, assim como a Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece), é um equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar. Já o Mirante do Caldas é um equipamento da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), que também é gerido em parceria com o IDM.